Um relacionamento atrás do outro indo ralo abaixo, junto com os cabelos que caíam da minha cabeça. Ansiedade, depressão, pensamentos acelerados, intercalados com dias de prostração absoluta. Eu fechava a cara, fazia bico, fingia estar ótima e batia a porta na saída.
- O que foi, meu bem?
- Você sabe muito bem, meu bem. -eu me recusava a dizer.
Só existe uma coisa mais insuportável do que a autoestima do homem hétero: a insegurança do homem hétero. Quando se sentem inseguros, os rapazes começam a fazer, fazer, fazer e nunca se passa pela cabeça refletir. Se questionar. Mergulhar em si ou ir à terapia. Ah,sim. Nem todo homem, mas sempre um homem.
O fato é que esse texto é pra falar mal de mim- e não deles. Quero falar sobre a minha própria insuportabilidade. Um belo dia, num reino tão tão distante, eu decidi que os homens deveriam me decifrar. Eu era a própria esfinge, pronta para devorá-los. Dali pra frente eu mandaria sinais de fumaça e, quem fosse esperto o bastante, entenderia. Anos depois descobri o nome disso: arrogância e narcisismo.
Dez horas da manhã e eu aqui, me autoproclamando Narcisa. E sabe por que faço isso? Porque descobri que tudo que a gente não fala, a gente engole e, vez ou outra, cai mal. Eu tinha uma dor tão amarga de relações passadas em que tinha sido enganada, que tudo o que eu queria ser era uma grande misteriosa. Agora, quem jogaria era eu. Quem confundiria a cabeça do outro seria esta que vos escreve. Depois de muitas sessões de terapia, eu admiti: o que era óbvio para mim só fazia sentido dentro dos meus padrões e da minha história. Ninguém sabia o que eu tinha vivido ( e, sinceramente, nem precisava saber), e as minhas frases e comportamentos não vinham com um briefing. As pessoas entendiam o que eu dizia — e, muitas vezes, eu falava uma linguagem com mais símbolos do que palavras — eu era como uma terra estrangeira.
Eu gosto de dizer que os encontros amorosos são como intercâmbios culturais. É como uma brasileira no primeiro café da manhã pós primeiro date se sentar à mesa com seus ovos mexidos e duas fatias de pão e, do outro lado, um japonês se servir de arroz e peixe. Dois mundos. Duas histórias. Dois repertórios. Talvez ela possa contar que, quando criança, sua mãe lhe ensinou a quebrar os ovos com delicadeza, sem furar a gema. Talvez ele possa dizer a ela que o arroz grudadinho é a memória mais forte de uma família que se separou. E se a gente chegasse no país estrangeiro -que é o outro- com mais curiosidade e menos nariz empinado?
Foram muitos, mas muitos anos mesmo, pra baixar a guarda e entender que O ÓBVIO PRECISA SER (MUITO BEM) DITO pra qualquer relação funcionar. A cara feia não faz ninguém “se tocar”, bater a porta não faz ninguém se importar mais com você, o chá de silêncio não resolve nada. E o primeiro passo pra uma comunicação efetiva nas relações é lembrar que:
1- o mundo não gira ao seu redor e sim,
2- o outro pode ter mais muitos assuntos arrodeando a sua cabeça. As relações precisam de humildade- e a comunicação também.
E, para além da filosofia que este texto traz, algumas dicas práticas para você se expressar melhor com e nas suas relações:
1- Se você tem alguma necessidade não atendida, peça ajuda. Nunca espere que o outro perceba sozinho que te falta algo.
2- Tenha clareza sobre o que é importante para você, mas esteja aberto a outros pontos de vista.
3- Antes de se comunicar, sinta as suas emoções (frustração, raiva, tristeza).
Depois me conta se fez efeito por aí?